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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Pra você, JF!


O relógio da Praça da Estação marca oito horas e alguns minutos, mas poderia ser qualquer outro horário porque o tempo aqui é o da lembrança. E o som é do trem que ainda corta a cidade. Há quinze anos, eu deixei o meu lugar. Voltei muitas vezes porque meu afeto continua lá, mas me faltava aquele olhar de turista, que descobre novidade onde outros enxergam rotina.

O nosso humilde Big Ben resiste solenemente, compondo a paisagem do Rio Paraibuna, rio desprezado, acusado de ser feio e poluído. Rio de “águas pardas” na descrição do poeta Murilo Mendes. Turvo, sim, mas também generoso na sua largura. E democrático. Mães com carrinhos de bebê, passeios com cachorros, caminhada, moradores de rua que dormem à beira do rio. Só agora eu descobri, numa passarela para pedestres, dois banquinhos pra quem quiser dar uma olhada menos preconceituosa para o nosso Paraibuna.

Cariocas do brejo? Isso é maldade com a gente... Torcemos, sim, para times do Rio de Janeiro, mas não trocamos o s pelo x, como dizem por aí. No máximo, costumamos acrescentar um i antes do s ou z em palavras como três e arroz, mas é só. A partir daí, já é implicância gratuita com nosso sotaque.

Ah, não temos mar, mas temos um Calçadão, onde tudo acontece e todos se encontram. Manifestações, políticos pedindo votos, gente vivendo o dia-a-dia. O Cine Palace e o Teatro Central. Quem é de fora sempre põe um som inglês para o nosso H da Rua Halfeld. Aprenda: na pronúncia de quem é da cidade, o H é ignorado e, cá entre nós, soa bem menos pedante.

O nosso Calçadão tem os melhores pipoqueiros que já conheci. O segredo da pipoca que dá fila são os queijinhos em cubos, quentinhos. Infância na ponta da língua. A coxinha de frango e Catupiry de uma lanchonete pequena e da época da minha adolescência... O bolo da Casa de Doces Brasil, cheio de glacê e com recheio inconfundível. Não importa se depois provei sobremesas mais saborosas e sofisticadas. Esse gosto nunca se perdeu.

Adoro andar sem rumo pelas galerias estreitas e pelas ruas do centro. Nenhum shopping, por mais requintado que seja, substitui esse prazer de ter várias lojinhas aconchegantes ou de fazer compras ao ar livre. E você sempre tromba com algum conhecido, mesmo quem vive longe há muito tempo, como eu.

Vista do Mirante do Cristo, Juiz de Fora parece cada vez maior e mais alta, com muitos prédios espremendo as casas. Mas a imagem que me marcou no mês de julho foi a do céu. Na cidade, nublada por natureza, o inverno costuma tingir a paisagem de azul. Foi assim nos cinco dias em que estive por lá.

Na hora de ir embora, pouco antes das 8 da manhã, uma surpresa. Passo pelo mesmo Paraibuna, agora encoberto pelas brumas. Juiz de Fora embaçada como num sonho. Os carroceiros, às margens do rio, dão um ar de passado à cena. Só depois que saí de lá é que percebi: JF deixa meu cabelo rebelde, meio anelado, meio indomável. Mas essa cidade fria e úmida está dentro de mim. E me deu a maior saudade das manhãs geladas a caminho da escola.