Foto: João Machado |
A foto publicada na Internet me tirou o
fôlego. Um homem abraçado à escultura de Carlos Drummond de Andrade à beira-mar
em Copacabana. O retrato mais triste da solidão, o sentimento de quem se agarra a uma imagem
fria porque quer um ombro ou um colo. O encaixe no abraço de bronze do poeta... Um abraço
gelado em que não se ouvem as batidas do coração. Mas ali o morador de rua
poderia desabafar, chorar, entregar-se e se sentir acolhido. O poeta, ah, esse
entendia bem do assunto. Pra escrever coisas tão lindas, certamente, foi fisgado
pela nostalgia.
Seria
muita arrogância de nossa parte achar que estamos livres dessa solidão de quem
mendiga afeto. Também queremos esse calor... Nem sempre, a vida oferece. É a
solidão coletiva, o mal das cidades grandes. Falta de tempo ou de vontade de
conviver. Tempo demais à frente de uma tela. Pessoas em excesso, disputando a
nossa atenção. Um mundo barulhento com palavras que não fazem sentido. E a
gente se sente muito bem na própria companhia, achando que “se basta”, até a
chegada de alguém especial que faz você querer aquela presença o tempo todo.
A doença aumentou, mas não é de agora.
Coincidentemente, acabo de ler uma biografia sobre a atriz Marilyn Monroe,
mulher linda, loura, desejada, famosa e sozinha. Ela, que era disputada pela
multidão de fãs, não se sentia querida o suficiente. Pulava de um romance ao
outro, e a carência nunca parecia chegar ao fim.
Muitas vezes, não adianta ter alguém ao
lado na cama ou crianças pra encher a casa. O sentimento é mais profundo que
isso e já nasce com a gente. Num de seus contos, ironicamente chamado de “Feliz
aniversário”, Clarice Lispector nos apresenta uma senhora que fazia 89 anos. A
festa com a família é amarga, apesar de estarem todos lá – filhos, noras,
genros, netos.
“A vida tem um vazio. Não pode dar uma de
louca e tentar preenchê-lo”. A frase dita por uma alcoólatra, no filme “Entre o
amor e a paixão”, resume o questionamento que todos nós fazemos de vez em quando. Eu consigo
lidar bem com a solidão... Gosto de ficar sozinha, quieta, lendo,
escrevendo, vendo filmes. Nunca me senti
mal com isso.
Aprender a ser só também é um treino do
desapego. Pode até soar contraditório, mas foi assim que descobri o valor de
uma boa companhia. Reconhecer o sentimento não significa querer se isolar. E o
meu texto, que começa com uma imagem triste, termina com um pensamento, no
mínimo, reconfortante, atribuído a Rachel de Queiroz: “A gente nasce e morre
só. E talvez por isso mesmo é que se precisa tanto viver acompanhado.”