Depois de quatro dias à espera de um voo
para Curaçao, apareceu a oportunidade de chegar lá, passando pela Colômbia. A
causa de tanto atraso era uma pane inacreditável no sistema da companhia aérea.
Milhares de passageiros prejudicados, irados, férias interrompidas, negócios
cancelados. E eu no meio dessa confusão, querendo apenas sair do Panamá e
chegar às praias lindas que eu só conhecia das fotos. Embora o tempo de viagem
aumentasse bastante, aceitei a proposta da empresa.
No check-in, ficou muito claro pra mim e
pra outros turistas que a bagagem deveria ser recolhida em Bogotá e enviada a
Curaçao. Achei estranho, confirmei, e o atendente disse que era isso mesmo. O
tempo no aeroporto seria curto, mas, segundo ele, suficiente para a operação.
Era
mais do que previsível. Num lugar desconhecido, com pouquíssimas pessoas para dar
informações e uma correria para a troca de voos, os passageiros ficaram
perdidos. Andamos de um lado para o outro, vimos malas rodando nas esteiras,
mas não havia acesso à bagagem. Tentávamos descobrir uma saída. Nada. Pra
chegar até lá, teríamos que dar entrada no país, carimbar passaportes etc. Impossível.
Com o prazo do embarque se esgotando, já não dava mais pra buscar qualquer tipo
de orientação.
E foi nesse momento que respirei fundo e
concluí: não tem mais jeito. Ou perco a mala, ou perco o voo. Eu queria tanto
desembarcar em Curaçao que todo o resto perdeu a importância. As roupas que eu
tinha selecionado com calma em BH, os acessórios, meus cremes e perfumes, as
compras que eu já havia feito no Panamá.
Era uma escolha. E quantas vezes já não
passamos por essas decisões na vida, muito maiores do que a de abandonar a mala
no meio do percurso... Falo daquelas horas em que o importante é seguir viagem,
embarcar na oportunidade que o destino oferece. O fim de uma história de amor.
O encerramento de uma etapa no trabalho. Até uma amizade que se afasta e não há
como retomar o laço. Você pesa sempre o que vai ficar pra trás. Lamenta, sim! Mas,
se a certeza da partida é mais forte, nada te impede de ir. É aquele olhar amplo
e a vontade incontrolável de continuar. Aquela
coragem súbita que, de repente, dá sentido a tudo.
Por incrível que pareça, depois de tanta
expectativa, todas as nossas malas chegaram a Curaçao. A minha com apenas três
das quatro rodinhas, mancando, mas estava ali. A informação errada da companhia
acabou sendo apenas um teste da minha capacidade de escolha e o reforço da
palavra que me persegue e me desafia sempre: o desprendimento.
Oportuno pra mim esse texto nesse momento da vida. To prestes a fazer uma escolha tendo que deixar sentimentos fortes pra traz.
ResponderExcluirV. Lockmann
Tenho que fazer o mesmo, mas ainda não sou (estou) forte o suficiente (mesmo sabendo que isso irá melhorar a minha vida)...
ExcluirLockmann e Ana: espero que vocês tenham sorte na escolha!// Ana: eu sempre fico na dúvida sobre qual Ana é você, já que só aparece o primeiro nome nos comentários. De qualquer forma, agradeço muito pelo retorno. Um abraço, leitores queridos!
ExcluirEu tb estava de férias e a minha mala tb chegou sem uma das rodinhas, mas a viagem foi tão linda e proveitosa, que nem liguei, mas de qualquer forma, sabe onde mando arrumar? kkkk... Bem vinda de volta!
ResponderExcluirClaudinha, que sufoco!!! Coisas de quem quer chegar no paraíso...rs
ResponderExcluirBjos!
E vai ser nessa semana meu confronto com realidade inexorável imposta pelos fatos Claudinha. Pois na próxima vou a minha terra ruminar a respeito. Dói. Já está doendo, mas quem sabe não aparece um lenitivo no meu caminho.
ResponderExcluirV. Lockmann
É verdade que a vida é uma sucessão permanente de pequenas e grandes escolhas.
ResponderExcluirNo entanto, as escolhas mais decisivas são também as mais dolorosas.
Sua crônica me levou ao cenário de dor que é ter que deixar para trás algo que, um dia, já foi a escolha de um tempo que passou e deixou de ser, porque, como você mesma disse, é preciso seguir em frente.
O desapego é necessário, mas, a meu ver, parece um desafio para além da essência humana...