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domingo, 17 de novembro de 2013

Mais uma sobre bagagem

     Depois de quatro dias à espera de um voo para Curaçao, apareceu a oportunidade de chegar lá, passando pela Colômbia. A causa de tanto atraso era uma pane inacreditável no sistema da companhia aérea. Milhares de passageiros prejudicados, irados, férias interrompidas, negócios cancelados. E eu no meio dessa confusão, querendo apenas sair do Panamá e chegar às praias lindas que eu só conhecia das fotos. Embora o tempo de viagem aumentasse bastante, aceitei a proposta da empresa.

     No check-in, ficou muito claro pra mim e pra outros turistas que a bagagem deveria ser recolhida em Bogotá e enviada a Curaçao. Achei estranho, confirmei, e o atendente disse que era isso mesmo. O tempo no aeroporto seria curto, mas, segundo ele, suficiente para a operação.
     
     Era mais do que previsível. Num lugar desconhecido, com pouquíssimas pessoas para dar informações e uma correria para a troca de voos, os passageiros ficaram perdidos. Andamos de um lado para o outro, vimos malas rodando nas esteiras, mas não havia acesso à bagagem. Tentávamos descobrir uma saída. Nada. Pra chegar até lá, teríamos que dar entrada no país, carimbar passaportes etc. Impossível. Com o prazo do embarque se esgotando, já não dava mais pra buscar qualquer tipo de orientação.
     
      
     
     E foi nesse momento que respirei fundo e concluí: não tem mais jeito. Ou perco a mala, ou perco o voo. Eu queria tanto desembarcar em Curaçao que todo o resto perdeu a importância. As roupas que eu tinha selecionado com calma em BH, os acessórios, meus cremes e perfumes, as compras que eu já havia feito no Panamá.

     Era uma escolha. E quantas vezes já não passamos por essas decisões na vida, muito maiores do que a de abandonar a mala no meio do percurso... Falo daquelas horas em que o importante é seguir viagem, embarcar na oportunidade que o destino oferece. O fim de uma história de amor. O encerramento de uma etapa no trabalho. Até uma amizade que se afasta e não há como retomar o laço. Você pesa sempre o que vai ficar pra trás. Lamenta, sim! Mas, se a certeza da partida é mais forte, nada te impede de ir. É aquele olhar amplo e a vontade incontrolável de continuar.  Aquela coragem súbita que, de repente, dá sentido a tudo.

       Por incrível que pareça, depois de tanta expectativa, todas as nossas malas chegaram a Curaçao. A minha com apenas três das quatro rodinhas, mancando, mas estava ali. A informação errada da companhia acabou sendo apenas um teste da minha capacidade de escolha e o reforço da palavra que me persegue e me desafia sempre: o desprendimento. 

7 comentários:

  1. Oportuno pra mim esse texto nesse momento da vida. To prestes a fazer uma escolha tendo que deixar sentimentos fortes pra traz.
    V. Lockmann

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    1. Tenho que fazer o mesmo, mas ainda não sou (estou) forte o suficiente (mesmo sabendo que isso irá melhorar a minha vida)...

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    2. Lockmann e Ana: espero que vocês tenham sorte na escolha!// Ana: eu sempre fico na dúvida sobre qual Ana é você, já que só aparece o primeiro nome nos comentários. De qualquer forma, agradeço muito pelo retorno. Um abraço, leitores queridos!

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  2. Eu tb estava de férias e a minha mala tb chegou sem uma das rodinhas, mas a viagem foi tão linda e proveitosa, que nem liguei, mas de qualquer forma, sabe onde mando arrumar? kkkk... Bem vinda de volta!

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  3. Claudinha, que sufoco!!! Coisas de quem quer chegar no paraíso...rs
    Bjos!

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  4. E vai ser nessa semana meu confronto com realidade inexorável imposta pelos fatos Claudinha. Pois na próxima vou a minha terra ruminar a respeito. Dói. Já está doendo, mas quem sabe não aparece um lenitivo no meu caminho.
    V. Lockmann

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  5. É verdade que a vida é uma sucessão permanente de pequenas e grandes escolhas.
    No entanto, as escolhas mais decisivas são também as mais dolorosas.
    Sua crônica me levou ao cenário de dor que é ter que deixar para trás algo que, um dia, já foi a escolha de um tempo que passou e deixou de ser, porque, como você mesma disse, é preciso seguir em frente.
    O desapego é necessário, mas, a meu ver, parece um desafio para além da essência humana...

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