Naquele dia de caminhada pela orla da
Pampulha, inexplicavelmente, tudo parecia mais lindo. O céu se apresentava num
azul inacreditável. A água, apesar da poluição, brilhava num tom diferente para
olhos mais atentos. O vento tornava a temperatura ideal, não incomodava,
soprava na hora certa. E, pra completar, uma garça resolveu se exibir no
momento em que eu passava. Bateu as asas e depois saiu, deslizando pelo
ar e levando minha imaginação naquele voo branco.
Parecia um balé que combinava com a música
que eu ouvia... E com os movimentos de quem passava. As pessoas pareciam mais
bonitas e felizes. E eu agradeci por ter
conseguido ver tudo aquilo e por ter me deixado contagiar pelo dia especial.
Na manhã seguinte, voltei à lagoa, na
expectativa de rever aquelas imagens, de repetir os sentimentos. Nada... A água
estava esverdeada, o calor me desanimava, o céu se mostrava mais pesado e as
garças já não eram tão elegantes. O cenário era o mesmo, mas não adiantou
chamar: a magia não veio colorir meu dia. Como já disse Adélia Prado: “De vez
em quando, Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo.”
E foi vendo cada uma dessas pedras que
decidi cumprir o percurso - pelo menos, uma hora de caminhada. E lá fui eu,
olhando para o chão, meio emburrada. Pra passar o tempo, resolvi contar passos,
marcar os metros percorridos, somar os minutos. Tudo muito calculado. Era a
matemática se opondo à poesia da véspera. A obstinação apareceu pra compensar a
falta da fantasia.
Sem querer ser pessimista, acho que não dá
pra negar que, na rotina, os dias mágicos costumam ser poucos, quase exceções. Como
diz uma repórter, que sempre se dedicou muito ao trabalho, é preciso “pedalar
forte” pra dar conta de tudo. Suar, cansar-se, fazer o que você não tem vontade,
simplesmente, porque é necessário. Isso não é negativo. É essa determinação que
faz a gente pular da cama e viver o que está do lado de fora.
Não é só na vida profissional. Uma amiga
decidiu usar essa força de vontade pra conquistar um namorado. Ela é bonita,
inteligente, bem-sucedida e sempre foi romântica, buscando o parceiro com todas
aquelas qualidades que nós sonhamos. Pois, decidiu começar 2014 com outra
cabeça. Não acredita mais nas palavras doces dos candidatos. Observa as ações e
analisa um a um. O romantismo foi posto de lado. Ela agora tem metas e
critérios para o amor. Vai encontrar seu príncipe nada encantado e ponto final.
Voltando ao meu dia sem graça, entre um
pensamento e outro, até consegui dar uma corridinha na orla. Como atividade
física, aquela manhã foi produtiva. E, mesmo com a total falta de inspiração,
tive a ideia de escrever esta crônica. Valeu! Os dias chatos, às vezes, provocam
essas reações. Você se empenha tanto que acaba obtendo resultados melhores do
que nas horas em que está leve demais. É claro que prefiro sempre os momentos
de poesia, mas, enquanto não chegam, vou andando por aí, com minha obstinação
taurina, contando as pedras do caminho.
Claro e transparente, muito bom.
ResponderExcluirGrande Adélia Prado! Grande Cláudia Gabriel! Pois é, esse talento não é para qualquer um não, de onde e quando menos se espera, a inspiração chega e mostra ao que veio. Resultado: um texto simples, leve, despretensioso e, ao mesmo tempo, maravilhoso. Lembrei-me dos nossos nem tão velhos, mas muito bons tempos em que caminhávamos na lagoa. Eh saudades, de você e das nossas caminhadas. Beijos. Elô
ResponderExcluirLindo e inspirador!
ResponderExcluirTem vezes que o menos é mais, não é mesmo?
Parabéns!
Claudinha, sempre romântica e maravilhosa !!!
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