Eu havia subido mais de 400 degraus pra ver uma cachoeira. E o guia tinha avisado logo no começo: o tempo seria curto lá em cima. Uma visão rápida da paisagem, algumas fotos pra registrar a beleza e os mesmos 400 degraus de descida. Resolvi encarar o desafio porque sabia que a imagem recompensaria o esforço. Fui aos poucos, sentindo as pernas pesadas, a respiração ofegante, mas consegui.
A cachoeira Véu da Noiva, em Cascadas de Chiflón, não decepcionou. Era realmente linda, de tirar o pouco fôlego que me restava. Um barulho forte e muita, muita água. Exuberante e assustadora. Só se podia mesmo admirá-la porque a violência da queda, de uma altura de 180 metros, não permitia a entrada nem mesmo dos mais corajosos.
Tirei o máximo de fotos que pude e já era hora da descida. O risco maior estava no céu. Nuvens inchadas e cinzas... E logo vieram os trovões. O guia alertou que era preciso acelerar o grupo antes que a chuva caísse. E lá fomos nós, turistas obedientes e apressados, descendo os degraus. Imagine o meu medo de raios que estariam por vir ou de um tombo nas pedras que, em breve, estariam molhadas e escorregadias. Nem pensei no cansaço. Fui mais rápida que a tempestade.
Já fora de perigo, eu me perguntei o que leva a gente a correr riscos - numa viagem ou na própria vida. O México é um país de terremotos - houve um pequeno abalo no pouco tempo em que estive por lá. O trânsito na capital é caótico. Há vulcões. E, no meu passeio ao interior do país, a tal cachoeira também me pareceu uma bela ameaça. Mas lá estava eu com a minha curiosidade valente.
Há dois anos, numa caminhada pela floresta do Tapajós, em Alter do Chão, no Pará, tive a mesma sensação. Éramos apenas quatro pessoas, no mundo habitado por bichos e, coincidentemente, um temporal rondava o percurso.
A conclusão nas duas situações: se a gente realmente tentar prever todos os riscos que poderão estar no caminho, ninguém sai de casa. E ainda assim não está a salvo.
Quantos aviões passam sobre meu prédio todos os dias, quantos carros cruzam o meu trajeto? O medo paralisa. E, por isso mesmo, melhor não pensar nisso.
Se eu deixasse de ir à cachoeira, não teria me encantado com tanto poder da natureza. Se eu desistisse do passeio na floresta, não teria visto as cores mais diferentes de borboletas, que já não voam mais pela cidade.
Se eu não saio de casa, posso ficar no conforto, mas deixo de descobrir, de experimentar, de aprender. É por isso que viajo. E, quando volto, sempre trago comigo a coragem pra viver, apesar do perigo que é a própria vida.