Pimenta
nunca me assustou. Gosto de sentir a boca queimando, os olhos se enchendo de
água e do calor que toma conta do corpo. Uma vez, num jantar em Diamantina, o
garçom se aproximou pra dizer que nunca tinha visto alguém comer pimenta tão
tranquilamente. Era daquelas fortes e eu tinha misturado umas três ao prato de
comida mineira. Uma delícia!
Enfim,
eu achava que não tinha medo desse tempero até ir ao México... É claro que
esperava algo mais picante, mas nunca imaginei o quanto poderia ser
incômodo. Os bares oferecem 3 ou 4 molhos já nos pratos de entrada. Eu fui
aos poucos. Só uma pontinha, mas era insuportável. Uma queimação sem sentido.
Sem gosto, puro fogo. E assim foi durante os 11 dias em que estive por lá. Eu,
correndo das pimentas. São lindas, coloridas, cheirosas, de muitos tipos e
tamanhos, mas, pra mim, eram só pra olhar. Tem até canteiro no Parque
Chapultepec, na Cidade do México.
Admirei
tudo, mas não queria mais provar os molhos e olhava, desconfiada, o cardápio.
Apelei para a comida italiana. Num restaurante que prometia ser leve e saudável,
pedi um macarrão cabelo de anjo com amendoim e legumes. Mas o prato, que chegou
lindo, não tinha nada de angelical. Não consegui comer nem a metade e precisei
secar os olhos com um guardanapo como se eu tivesse acabado de ter uma crise de
choro. Puro descontrole.
O
exagero tinha acabado com o prazer. Eu não sentia o sabor de mais nada. Só o
predomínio de algo que pretendia se impor. Sabe aquela presença de alguém que
não deixa mais ninguém conversar e quer ser o centro das atenções a qualquer
custo? E aquelas pessoas que nem sabem qual é o assunto e já chegam dando
opinião? Excesso de comida, de bebida, de palavras, de imagens, de barulho, de
violência. Alegria forçada quando o silêncio poderia falar mais. Pois é, pra
mim, as pimentas loucas do México são assim.
Uma
overdose que cansa, que dá vontade de voltar pro nosso arroz com feijão,
temperado com bastante alho, para as nossas malaguetas vermelhinhas que ardem
na medida certa. Excesso, até de doce, enjoa.
Excesso de luz ofusca. Excesso de água alaga. Excesso atropela e, no limite,
anestesia.