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domingo, 22 de setembro de 2013

A solidão da atriz, do poeta e do andarilho

Foto: João Machado


     A foto publicada na Internet me tirou o fôlego. Um homem abraçado à escultura de Carlos Drummond de Andrade à beira-mar em Copacabana. O retrato mais triste da solidão, o sentimento de quem se agarra a uma imagem fria porque quer um ombro ou um colo. O encaixe no abraço de bronze do poeta... Um abraço gelado em que não se ouvem as batidas do coração. Mas ali o morador de rua poderia desabafar, chorar, entregar-se e se sentir acolhido. O poeta, ah, esse entendia bem do assunto. Pra escrever coisas tão lindas, certamente, foi fisgado pela nostalgia.


     Seria muita arrogância de nossa parte achar que estamos livres dessa solidão de quem mendiga afeto. Também queremos esse calor... Nem sempre, a vida oferece. É a solidão coletiva, o mal das cidades grandes. Falta de tempo ou de vontade de conviver. Tempo demais à frente de uma tela. Pessoas em excesso, disputando a nossa atenção. Um mundo barulhento com palavras que não fazem sentido. E a gente se sente muito bem na própria companhia, achando que “se basta”, até a chegada de alguém especial que faz você querer aquela presença o tempo todo.

     A doença aumentou, mas não é de agora. Coincidentemente, acabo de ler uma biografia sobre a atriz Marilyn Monroe, mulher linda, loura, desejada, famosa e sozinha. Ela, que era disputada pela multidão de fãs, não se sentia querida o suficiente. Pulava de um romance ao outro, e a carência nunca parecia chegar ao fim.

     Muitas vezes, não adianta ter alguém ao lado na cama ou crianças pra encher a casa. O sentimento é mais profundo que isso e já nasce com a gente. Num de seus contos, ironicamente chamado de “Feliz aniversário”, Clarice Lispector nos apresenta uma senhora que fazia 89 anos. A festa com a família é amarga, apesar de estarem todos lá – filhos, noras, genros, netos.

     “A vida tem um vazio. Não pode dar uma de louca e tentar preenchê-lo”. A frase dita por uma alcoólatra, no filme “Entre o amor e a paixão”, resume o questionamento que todos nós fazemos de vez em quando. Eu consigo lidar bem com a solidão... Gosto de ficar sozinha, quieta, lendo, escrevendo, vendo filmes.  Nunca me senti mal com isso.

     Aprender a ser só também é um treino do desapego. Pode até soar contraditório, mas foi assim que descobri o valor de uma boa companhia. Reconhecer o sentimento não significa querer se isolar. E o meu texto, que começa com uma imagem triste, termina com um pensamento, no mínimo, reconfortante, atribuído a Rachel de Queiroz: “A gente nasce e morre só. E talvez por isso mesmo é que se precisa tanto viver acompanhado.”

6 comentários:

  1. Que coisa linda, amiga! Tenho pensado muito sobre essas coisas. Beijão!

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  2. Adorei , Claudinha! Muito bonito e importante esta questão. Bjos!

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  3. A conquista do "sozinho", não é fácil Claudinha. Quando optei pela solteirice na maturidade aqui em LS, sabia que ia ser difícil. Mas você disse bem: valoriza-se mais as boas companhias.
    Vlockmann

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  4. Sei lá se a solidão eh bom ou eh má, sei lá... Na verdade devemos descobrir aos poucos um carinho eh muito bom, paro pra pensar e não chego a conclusão nenhuma, o bom eh estar do lado de quem a gente gosta, mas eh bom a gente valorizar nós mesmo, e ser feliz do jeito que achar melhor. Abraços Arthur

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